Texto:
O projeto está paralisado desde 2021, devido a decisão liminar do relator, ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Moraes enviou a ação que questiona o projeto da Ferrogrão às partes para conciliação. Representantes do agronegócio consideram a Ferrogrão estratégica para o escoamento da produção de milho e soja. Atualmente, a maior parte da colheita é transportada por caminhão para portos do sul e sudeste pela BR-163. No entanto, as condições da rodovia comprometem o transporte de cargas. Indígenas e organizações dizem que os 933 km de trilhos afetarão territórios e unidades de conservação. Em Satarém, cidade próxima a Miritituba, organizações e indígenas falam sobre suas posições sobre o projeto na região.
ENTREVISTAS:
Johnson Portela - integrante do Movimento Tapajós Vivo
Alexandre Chaves - Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Santarém (ACES)
Lucas Tupinambá - Líder indígena do Baixo Tapajós
Padre Edilberto Sena - Movimento Tapajós Vivo
AGÊNCIA AMAZON:
roteiro e produção
JOHNATHANN KLISMANN
edição e finalização
ALEXANDRE ALMEIDA
Tempo VT: 06'42"
***Trilha sonora***
Johnson Portela - integrante do Movimento Tapajós Vivo
"A ferrovia foi criada como uma iniciativa de logística na região do Tapajós, ou seja, o transporte de commodities, e deste lado, soja e milho."
***áudio da máquina de colheita***
narração - Padre Edilberto Sena - Movimento Tapajós Vivo
mapa:
"São 933 km de ferrovia para atender somente a exportação de soja e milho do estado do Mato Grosso, ou seja, para atender o agronegócio."
***áudio da máquina de colheita***
Johnson Portela - integrante do Movimento Tapajós Vivo
"Essa questão da Ferrogrão vai ter vários impactos socioambientais, acho que um dos maiores que pode ocorrer é o fenômeno 'Espinha de Peixe'.
O que cientificamente seria um inchaço das estradas. Por exemplo: a rodovia BR-163. A estrada sofreu um pouco com esse fenômeno, que seria usada para transporte e ao longo da estrada haveria desmatamento para projetos, ou até mesmo para a própria produção de soja. Então, vai ter um aumento grande nesse sentido, assim como teve na BR-163."
***áudio de caminhão na estrada***
Alexandre Chaves - Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Santarém (ACES)
"É importante e somos a favor de todo investimento, desde que esteja de acordo com a legislação para que possa tornar o setor competitivo."
***movimento de áudio no silo de soja***
Johnson Portela - integrante do Movimento Tapajós Vivo
"A Ferrogrão vai ter vários impactos socioambientais no território, e é isso que tanto debatemos. Um dos debates que mais envolve a Ferrogrão é uma tentativa de vendê-la como um projeto verde."
***Trilha sonora***
Alexandre Chaves - Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Santarém (ACES)
"Tudo o que se fala sobre a Amazônia está cheio de regras ambientais. E nós da ACES - Associação Comercial e Empresarial de Santarém, entendemos que deve ser assim. Deve haver regras rígidas em questões ambientais. Porque se não houver, não teremos segurança jurídica."
***Trilha sonora***
Johnson Portela - integrante do Movimento Tapajós Vivo
"A ferrovia terá que passar por vários territórios e assentamentos indígenas, e isso é no trilho. Haverá uma grande área desmatada e uma transformação. Infelizmente, o curso de algumas unidades de conservação federais terá que ser alterado para permitir a passagem dos trilhos da ferrovia."
Lucas Tupinambá - Líder indígena do Baixo Tapajós
"Eu sou uma liderança indígena do Baixo Tapajós e nossa posição é contra a ferrovia, porque sem consulta não pode haver nenhum tipo de projeto que possa afetar diretamente a população que vive nas margens do Rio Tapajós, e também de Miritituba até Sorriso. Existem várias populações indígenas, estou citando aqui o povo Mundurucu, o povo Kayapó, que vivem nessas margens. E também os povos do Baixo Tapajós, como os povos Tupinambá, Kumaruara, Maytapu, entre outros. Sem consulta não pode haver ferrovia."
***Trilha sonora***
Alexandre Chaves - Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Santarém (ACES)
"Temos ciência, neste momento, de que a ferrovia não virá até Santarém. Gostaríamos que ela viesse para que ela pudesse ser viabilizada economicamente, e assim reduzir os custos de escoamento de grãos e ajudar a nossa fronteira agrícola, que hoje representa mais de 30% do Produto Interno Bruto - PIB, do município."
***Trilha sonora***
Lucas Tupinambá - Líder indígena do baixo Tapajós
"Aumentar o número de barcaças, é claro, impossibilitará a vinda dos pescadores das vilas onde eles obtêm sua alimentação diária. Especialmente aqueles que vivem nas vilas e comunidades que ficam às margens do Rio Tapajós. Esses são impactos imensuráveis na cadeia alimentar dessas populações."
Padre Edilberto Sena - Movimento Tapajós Vivo
"Vamos apenas assumir as consequências negativas.
Por que?
Eles vão invadir o Parque Nacional do Jamanxim, vão invadir terras indígenas, ocupar o nosso Rio Tapajós e aumentar o movimento do Rio Tapajós com os comboios de exportação de soja e milho por esta região."
Johnson Portela - integrante do Movimento Tapajós Vivo
"É um projeto que em alguns estudos, como o Grupo de Trabalho (GT) de Infraestrutura, que é um GT com várias organizações que fazem estudos sobre infraestrutura na Amazônia, não faz sentido financeiro um investimento público-privado em um projeto que começa no Mato Grosso e vai até o Tapajós, sabendo que há outros projetos em andamento, outras ferrovias que poderiam transportar soja para outras partes do país, ou seja, para o nordeste ou mesmo para o sudeste."
**trilha sonora**
**áudio de caminhões na rodovia***
Alexandre Chaves - Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Santarém (ACES)
"Em 2023, Santarém exportou mais de 2 milhões e 700 mil toneladas de soja. O milho foi de 619 mil toneladas. No primeiro semestre deste ano, nós já temos 2 milhões e 494 mil toneladas de soja, ou seja, nós vamos superar em muito o número do ano passado. Nós já ultrapassamos o milho, nós exportamos mais milho do que no ano passado todo. Foram 879 mil toneladas. Então, para Santarém, hoje, a agricultura representa em torno de 35% do PIB - Produto Interno Bruto em 2024, tanto da nossa produção interna aqui na região metropolitana que engloba Santaré, Mojuí e Belterra, quanto da movimentação de cargas, da movimentação de produtos."
**trilha sonora**
Padre Edilberto Sena - Movimento Tapajós Vivo
"Sou radicalmente em defesa do meio ambiente da Amazônia contra esse monstro que querem construir aqui, a Ferrogrão."
Johnson Portela - integrante do Movimento Tapajós Vivo
"Nós, do Movimento Tapajós Vivo, somos totalmente contra isso no sentido socioambiental, no sentido econômico, no sentido político."
Alexandre Chaves - Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Santarém (ACES)
"Acredito que é importante para o Brasil, para o Mato Grosso e para o estado do Pará. Ir para Itaituba pelo porto de Miritituba é importante porque vai diminuir os custos de transporte de grãos e vai tornar o Brasil mais competitivo mundialmente."
***áudio da máquina de colheita***
***trilha sonora****
FIM
Fonte: Agência Amazônia